Sempre fui contra a agressão física de crianças. Fico chocada toda vez que presencio, inclusive uma ameaça. Já ouvi um pai de uma criança típica dizer “vou te bater até sangrar”. Nesse momento, duas coisas passaram na minha cabeça: uma tragédia, ou uma ameaça sem caráter de realidade, que nunca será realizada pelo pai e que só aumentará os comportamentos inadequados da criança. “Nunca faça uma ameaça que não possa cumprir”, todo mundo já ouviu esse conselho, mas é impressionante como os pais ainda utilizam ameaças irreais para conter seus filhos.
O que acontece se você ameaçar seu filho, ele não obedecer e você não puder cumprir sua ameaça? Simplesmente, suas ameaças vão virar uma piada. A criança vai se engajar em comportamentos ainda mais inadequados e saberá que nada lhe acontecerá. Um lado positivo das ameaças não cumpridas é que elas podem indicar um desconforto por parte dos pais em serem agressivos, e isso é positivo! Por que não pensar, então, em estipular regras reais (não que essa seja a única forma de ensinar, nem a mais eficiente)!? Dê regras do tipo “se você não me obedecer, vou ter que guardar o seu carrinho”. Pense também em estipular tempos reais, um dia, algumas horas... Não vai adiantar dizer para a criança que ela não terá o carrinho para sempre, se você for dar o objeto depois de 5 minutos. Seja claro, objetivo e consistente com as regras dadas ao seu filho.
Estipular regras, no entanto, só é eficaz quando você lida com uma criança verbal que tenha nível avançado de compreensão. Por isso, para muitas crianças do espectro autista essa estratégia será ineficaz. Além disso, a ameaça mesmo em forma de regras mais amenas podem causar efeitos colaterais ruins como estresse e medo. Por isso, use o mínimo possível.
Por último, nunca use a agressão física para “educar” seu filho. Tecnicamente, a agressão física: (1) é um modelo inadequado para solução de problemas, a criança pode se tornar agressiva e entender que esta é melhor maneira de impor sua vontade; (2) está relacionada a um descontrole dos pais, pois acontecem em momentos extremos de estresse e frustração por parte deles (falta de repertório); (3) tem efeitos colaterais e emocionais, a criança pode se tornar reativa, raivosa, chorosa, com sentimentos de inferioridade, etc; (4) pode desenvolver comportamentos diferentes dependendo da presença ou não do agressor, por exemplo, se a criança morde outra e é punida pelo pai na mesma hora, quando o pai não estiver presente ela “saberá” que está livre para morder quem quiser; (5) produz confusão para a criança em relação ao que ela fez de errado, especialmente quando ocorre muito tempo depois do comportamento alvo.
Seja firme e consistente com tudo que falar para o seu filho, assim ele saberá que pode confiar no que você falar! Além disso, valorize, ao máximo, os comportamentos adequados dele, você pode se surpreender com o poder do elogio e da atenção!
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